sábado, 27 de setembro de 2008

VITÓRIA DE CURLIN - Jockey Club Gold Cup (gr.1) - 2.000ma

Com esta vitória Curlin se tornou o único cavalo na história dos EUA, a superar a cifra dos US$ 10,000,00 em somas ganhas, superando o antigo líder CIGAR, com US$ 9,999,815. Assista o páreo:





Um comentário:

Tom disse...

Escrevo estas linhas em estado de absoluta estupefação ao ser informado, através de pequena notícia na revista Veja, sobre a demissão de Ernani Pires Ferreira, que era o locutor oficial das corridas do Jockey Club Brasileiro, no Rio de Janeiro.

Ernani é o maior locutor de corridas de cavalos de toda a história do turfe mundial. Para afirmar isso, não me atenho apenas a fatos notórios, que são de conhecimento de turfistas ou não, como o fato de ter sido ele incluído oficialmente nos quadros de Record do Guinness Book, renomada publicação de reconhecimento internacional, batendo o recorde mundial de verbalizar o maior número de palavras em um minuto, que até então pertencia ao Presidente Kennedy.

Estive presente no momento em que Ernani bateu este recorde, narrando um páreo de 1.000 metros na grama, em uma tarde ensolarada no Hipódromo da Gávea. Lembro-me ainda de que Ernani chegou a ser vaiado por um pequeno grupo de sandeus que não tinha a menor idéia do que estava acontecendo naquele momento. O grupelho manifestou sua mesquinha revolta por não ter conseguido compreender os momentos finais da narração do páreo, em razão da alta velocidade com que as palavras eram proferidas. Mas, como sempre ocorre, ninguém se lembra daqueles pascácios, enquanto Ernani eternizou seu nome, bem como o nome do nosso país.

No entanto, parece que novamente pessoas também condenadas ao esquecimento empreenderam nova carga contra Ernani.

Acompanhei corridas de cavalos durante toda a minha vida, no Brasil e no exterior, e afirmo minha certeza inabalável de que não há neste mundo narrador de corridas de cavalos que possa ser sequer comparado a Ernani.

Ernani é dono de uma voz lindíssima, que, impostada com perfeição, soa magnífica até mesmo no deplorável sistema de alto falantes da Gávea.

Ernani sempre foi um admirador incondicional de Teofilo Vasconcelos, seu antecessor na locução das carreiras na Gávea. Incrivelmente, Ernani não se considera melhor locutor do que Teófilo, fato este que se deve apenas à fidalguia e modéstia de Ernani, que evidentemente é superior àquele em tudo, especialmente no que diz respeito à qualidade da voz de ambos. Teófilo, embora excelente narrador, tinha a voz por demais anasalada, enquanto Ernani tem a voz perfeita para qualquer atividade referente a narrações.

Ernani tem o talento inigualável de imprimir dinâmica à sua narrativa, que cresce conforme o desenvolvimento da prova narrada, culminando na reta final, de forma a transformar o mais simples dos páreos em um emocionante acontecimento.

Hoje em dia, qualquer um pode ter acesso aos páreos corridos no estrangeiro, bem como às respectivas narrações, na World Wide Web (Internet). Os locutores estrangeiros são em regra maçantes e repetitivos, e tentam imprimir alguma emoção às suas enfadonhas atuações berrando ao final dos páreos. Algumas narrativas chegam a dar sono, especialmente em páreos de longa distância. Sem mencionar o fato de que jamais vi um que tivesse uma voz comparável à do Ernani.

Ernani nunca foi enfadonho, e jamais precisou berrar. E ainda brindava o público – em plena narração da corrida - com detalhes acerca de problemas de encilhamento ou trocas de chicote de mãos pelos jóqueis na reta oposta. Ernani enxergava tudo.

Ernani impulsionou a carreira de diversos profissionais do turfe, especialmente de alguns jóqueis. Veja-se o Juvenal Machado da Silva, que, embora tenha sido o melhor jóquei dos últimos 30 anos na Gávea, não tinha o talento de autopromover-se. Ernani fez com que o nome dele se tornasse de fato conhecido fora do hipódromo.

Os dois únicos trunfos inquestionáveis do Jockey Club do Rio de Janeiro tinha sobre quaisquer outros eram a beleza sem par do Hipódromo da Gávea e a absoluta superioridade de seu locutor oficial sobre quaisquer outros, esta reconhecida pelos turfistas estrangeiros que por aqui se aventuravam.

Apenas a título de ilustração, para os que não sabem, Ernani foi jóquei amador e proprietário de cavalos, tendo sido vitorioso em ambas as atividades. Dedicou-se, como poucos, ao turfe carioca, que, neste momento, lhe dá as costas.

Inicialmente, fiquei revoltado com a notícia da demissão de Ernani, mas, pensando bem, talvez seja melhor assim. Ernani merecia narrar corridas de Farwell, Escorial, Emerson, Much Better, Itajara, Boticão de Ouro, Old Master, etc... Merecia narrar corridas de Luís Rigoni, Negro Diaz, Pancho Yrigoyen, Juvenal, etc... Deveria narrar provas em que brilhassem as jaquetas ouro e costuras azuis, verde preto em listras verticais, branco e estrelas azuis, preto e ouro em listras horizontais, verde e cinza em listras horizontais, etc...

O turfe anda em franca decadência, tanto no que diz respeito aos cavalos quanto aos profissionais, então, faz todo o sentido que Ernani seja dispensado do fardo de narrar as provas de hoje em dia...

E assim, os dirigentes do turfe carioca optaram por encerrar as atividades de Ernani. Neste passo, não custarão também a encerrar as atividades do hipódromo da Gávea...

No entanto, aproveito esta oportunidade para agradecer a Ernani Pires Ferreira por ter dedicado sua vida ao turfe carioca, e de ter permitido que eu me aproveitasse de seu talento inigualável, apreciando cada instante de suas preciosas narrações. Agradeço por ele ter permitido que, por muitas vezes, eu tivesse o privilégio de assistir páreos a seu lado, e, acima de tudo por ter desfrutado de sua amizade.

Mas lembrem-se: quem escreve estas linhas não é o amigo e admirador de Ernani, mas o turfista que se sente espoliado com a saída forçada dele do JCB!

Meu único consolo é que os responsáveis por essa deplorável decisão serão esquecidos na história do turfe, ou pior, se forem lembrados, será em razão de desatinos como a demissão de Ernani. Importante neste passo frisar que desconheço os responsáveis por esta decisão, e serei mais feliz se permanecer desconhecendo-os.

Cada vez mais compreendo por que motivo achei melhor me afastar do turfe carioca, desfrutando apenas das boas lembranças de eventos passados...

Agora, só resta afirmar, com o maior pesar, que quem contorna a curva de chegada e entra pela reta final é o Jockey Club Brasileiro...

22 de outubro de 2008

Tom Oliveira