segunda-feira, 1 de junho de 2009

FARWELL - SEGUNDO OS MAIS ANTIGOS, "O MAIOR DE TODOS"

Desde que comecei no turfe escuto meu pai falar sobre Farwell, inclusive ele afirma que o mesmo foi muito mais cavalo que Itajara. Então em homenagem a este craque que não vi correr vou reproduzir o texto que foi publicado no "O Globo" na ocasião em que houve a eleição do "melhor cavalo de todos os tempos", e logo depois assista o filme do Derby paulista de 1959.



"Quem visse Farwell caminhando no padoque antes do páreo, com seus 500 quilos, extremamente calmo, não podia suspeitar estar diante de um dos maiores fenômenos das pistas de corrida do Brasil em todos os tempos. Mas era só entrar na raia para se transformar: suas passadas eram largas e vigorosas e parecia não tocar o chão tal a rapidez com que se movia.
Campeão imbatível numa época de grandes craques
Durante toda sua campanha, aqui ou no exterior, seu jóquei, o freio paulista Lodegar Bueno Gonçalves, recebia apenas uma instrução: largar, tomar a ponta e deixar correr. Foi desta forma que venceu as 15 provas disputadas no país, entre elas o GP Derby Sul-americano, 2.400 metros, em Cidade Jardim, batendo a Hyperio; o Derby Paulista e o GP Brasil, então disputado em 3.000 metros. Invicto, tríplice-coroado paulista, jamais teve adversário entre nós.
Cavalo quase negro, nascido em 1956, Farwell era filho do inglês Burpham, um descendente de Hyperion e Marilu. Criado pelos irmãos Almeida Prado no tradicional Haras Jahu, São Paulo, cujas cores cinza e verde em listras horizontais defendeu nas pistas, tornou-se uma lenda entre aqueles que lotavam os hipódromos para vê-lo atuar. Seus duelos com Escorial e Narvik (então recordista mundial dos 3.000 metros, grama) no GP Brasil de 1960; com Hyperio; com Major’s Dilemma, Lohengrin e outros craques inesquecíveis ficarão para sempre na memória daqueles que viveram esta época de ouro do turfe brasileiro.
Suas duas únicas derrotas ocorreram no exterior. Em Buenos Aires, foi segundo para Escorial, no G.P. Internacional 25 de Mayo - Sesquicentenário da República Argentina, e novamente segundo para Atlas, no GP Internacional Carlos Pellegrini, ambos disputados em 1960. Na primeira derrota, é sabido que teve uma cólica na semana da corrida e só correu por insistência de seus proprietários. Na segunda, bateu-se numa disputa desde a largada, com os dois animais argentinos destacados para persegui-lo durante o percurso e só foi perder nos últimos metros para um dos maiores cavalos sul-americanos de todos os tempos, o excepcional Atlas, derrotando, entre outros, o craque Arturo A.
A derrota para o notável Escorial no 25 de Mayo foi num daqueles páreos inesquecíveis. No meio da reta, vindo do fundo do lote, Escorial livrou um corpo sobre ele e, quando Francisco Irigoyen julgou que a prova estava ganha, teve que usar de todo seu vigor e maestria para conservar a vantagem até o disco, pois, valendo-se de seu enorme coração, Farwell ameaçou voltar até o último instante. Depois do páreo, exausto, Irigoyen confidenciou que poucas vezes na vida teve que se esforçar para vencer uma corrida.
Levado para a reprodução, Farwell infelizmente se revelou estéril. Mas suas atuações nos anos de 1959 e 1960, em pistas brasileiras e argentinas, marcaram época e o transformaram num mito no continente.
Os turfistas com mais de 50 anos, falam sobre ele com incontida emoção. Lendas foram criadas a respeito de Farwell, algumas chegando a dizer que seus criadores o escondiam, quando compradores visitavam o haras, mas ninguém confirma isso. Os locutores oficiais do Rio e São Paulo, respectivamente Ernani Pires Ferreira e Roberto Casella, quase sempre citam Farwell, como o inesquecível craque que encantou sua geração no Brasil."

Assista o GP Derby Paulista de 1959: